Sobre Prazer, Dinheiro e Renúncia: Não há escolha sem dor!
11/09/12 00:02Em certa oportunidade, ao sermos convidados para participar de um evento, respondemos que não poderíamos ir por falta de tempo. Nosso interlocutor nos olhou fixamente e disse: tempo vocês têm, o que não têm é a prioridade para este evento, afinal, todos nós temos 24 horas por dia!
Tal passagem causou perplexidade. Passamos a reparar na enorme quantidade de escolhas que temos que fazer durante a vida, tendo que priorizar algo em detrimento de outra coisa. As escolhas são incontáveis, por exemplo: as amizades, exercícios físicos, o emprego, uma universidade específica, o casamento, a compra ou aluguel, entre outras.
Cultivar uma amizade, por exemplo, requer tempo. Logo, escolher um amigo significa abrir mão de tempo que poderia ficar com outras pessoas. Há o dilema de optar por uma boa tarde numa churrascaria ou uma tarde na academia de ginástica, ou ainda uma bela “siesta” ao melhor estilo andaluz, ouvindo flamenco e imaginando o tabladot. Ao pensar em casar, a pessoa opta, na maioria dos casos, entre segurança do relacionamento ou ao espírito de aventura da vida de solteiro. Em síntese, em tudo na vida há escolhas e renúncias.
No entanto, nosso cérebro está sempre melhor treinado para pensar nos benefícios do que na renúncia. Dificilmente ponderamos o peso das renúncias em nossas escolhas. Por se tratar de um texto ligado às finanças, nada melhor do que usar um exemplo da área.
Conhecedores como ninguém da alma humana, os publicitários sempre lançam mão de anúncios que estimulam a urgência das coisas, levando-nos a priorizar um produto ou serviço como se nossos próximos dias dependessem dele. “Tenho que ter este mais novo televisor!” diria um consumidor, logo após uma campanha de sucesso Diante de tão fortes apelos, deixamos de lado coisas importantes e somos levados para o consumo desenfreado. Como dissemos, na vida, escolher uma coisa significa, sempre, renunciar outra coisa.
Suponhamos que você esteja comprando um televisor à vista, por R$ 1.500,00. Neste caso, você está renunciando a esta quantia em troca da satisfação de ter o televisor. Você por acaso já parou para se indagar se está fazendo a coisa certa? Se não comprasse o televisor, o que poderia fazer com o dinheiro? Para alguns, a compra pode significar a renúncia de uma viagem, para outros, fanáticos por moda, pode significar algumas peças no vestiários, os mais precavidos, por exemplo, podem entender isso como um aumento da renda após a aposentadoria.
Quando se compra a prazo, além dessa renúncia, tem os juros. Se alguém compra um televisor que custa à vista R$ 1.500,00, e parcela o valor em 10 vezes de, digamos, R$170,00, significa que a renuncia não é de apenas de R$1.500,00, pois existe, neste caso, mais R$200,00 de juros. De forma geral, os juros são o aluguel que se paga (ou recebe) pelo dinheiro. Os duzentos reais são, portanto, o que se paga para antecipar o consumo de R$1.500,00.
Criou-se uma lógica de que quanto mais eu consumo hoje, mais feliz eu fico. Esta premissa é ótima para os marqueteiros, mas será que vale também para todas as pessoas? Existe um ganho em postergar o consumo, ou seja, postergar uma satisfação? De certa forma, em se tratando se uma sociedade de mercado, o principal incentivo são os juros. Quem posterga sua satisfação recebe um “plus” daquele que quer antecipar sua satisfação. No caso da compra do televisor, se a pessoa fosse menos afoita poderia consumir no futuro R$200,00 a mais… O problema, numa sociedade como a nossa, é convencer a pessoa comum a tratar o seu dinheiro com mais respeito… enquanto isto, o publicitários anuncia: não perca tempo, promoção imperdível!!!!!!!
Ja dizia Antoine de Saint-Exupéry“Determinada flor é, em primeiro lugar, uma renúncia a todas as outras flores. E, no entanto, só com esta condição é bela”.
Quatro dicas importantes para não renunciar em demasia:
1) Lembre-se sempre que ao consumir você renuncia aos juros que poderia receber da poupança;
2) Uma decisão de consumo afoita pode fazer com que você renuncie a coisas mais importantes, que lhe poderiam lhe proporcionar uma maior satisfação;
3) Quando você faz um financiamento para antecipar uma satisfação, você não só renuncia ao dinheiro do bem como também renuncia às satisfações futuras que poderiam se compradas com o valor do juro;
4) Quando você se endivida mais do que pode, você renuncia também a boas noites de sono!
Post com colaboração do Prof. Marcos Cordeiro Pires que é Doutor em História Econômica pela USP. Professor de Economia Política da Unesp de Marília e co-autor do livro “10x sem juros“
O resumo deste artigo foi publicado no caderno ‘Mercado’ do dia 3 de setembro