O Efeito Mateus
05/11/12 12:19Existem diversos estudos sobre as causas que levam alguns indivíduos a se destacarem da média ou, no jargão estatístico, serem “outliers”.
Dentre os principais pesquisadores deste fenômeno está Malcolm Gladwell, escritor americano que acredita que, na maior parte dos casos, são fatores específicos que determinam o sucesso, e não o mérito ou talentos sobrenaturais.
Um bom exemplo para esta análise é dado pelo seguinte caso: Gladwell procurou investigar o porquê do sucesso de alguns jogadores na liga escolar de hóquei no gelo do Canadá. Ao analisar a data de nascimento dos atletas ele descobriu que, 14 dos 25 jogadores nasceram entre janeiro e março, e apenas 5 nasceram no segundo semestre.
A princípio, este dado pode parecer irrelevante, já que o mês de nascimento não representa nenhuma implicação direta na performance esportiva dos atletas.
No entanto, ao pesquisar mais afundo esses dados, Malcolm descobriu as seletivas para times infantis ocorrem entre seis e sete anos de idade. Nesta época, alunos nascidos entre janeiro e março são de 9 a 11 meses mais velhos do que os outros. Para um adulto, 11 meses pode não fazer diferença, mas para uma criança de seis anos essa diferença é relevante. Ou seja, mais importante do que um talento nato, a época em que o atleta nasceu é mais relevante.
Com o treinamento físico e psicológico, a criança que no início possuía uma leve vantagem frente aos colegas progride com velocidade muito grande e amplia este desequilíbrio rapidamente.
Para se ter uma ideia da relevância desse fator, ao analisarmos a nossa seleção brasileira de 1994, dos 20 jogadores convocados 5 nasceram em janeiro. Esse valor corresponde a 25% do time. Se não houvesse relação alguma esse valor deveria estar em torno de 8%, já que a chance de haver um jogador nascer em janeiro é aproximadamente 1/12.
Gladwell dá a este fenômeno o nome de “Efeito Mateus”, fazendo uma analogia à passagem bílbica: “A todo aquele que tem, será dado mais, e terá em abundância. Mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.” (Mateus, 25, 28-29).
Outro caso interessante que apresenta o Efeito Mateus é o de alunos prestando vestibular. Se compararmos o nível de conhecimento do último aprovado na melhor faculdade com o do primeiro colocado em uma universidade mediana não conseguimos apontar grandes diferenças entre os alunos, sendo que o fator determinante para a aprovação pode ter sido a sorte, e não o estudo.
É possível afirmar, portanto, que ambos os estudantes encontram-se no mesmo patamar no momento de ingresso no curso superior.
No entanto, o aluno da melhor faculdade terá acesso a um amplo conteúdo e ótimo estudo, podendo, consequentemente, ocupar lugar de destaque no mercado de trabalho com sua formação, enquanto que o aluno da faculdade mediana terá oportunidades muito menores ao final de seu curso.
O Efeito Mateus está presente também no mercado empresarial. Consideremos dois restaurantes novos na cidade, A e B muito próximas de preço e qualidade.
Por fatores aleatórios , o restaurante A recebe no primeiro mês um pouco mais clientes que o B, gerando um faturamento maior. Aos olhos dos investidores , o restaurante A se torna mais atrativo a, e acaba por arrecadar e crescer mais do que o restaurante B que possuía as mesmas propriedades no início.
Com o passar do tempo, o A se desenvolve bem mais que o B , como no caso das crianças – pequenas diferenças no inicio podem resultar em grandes disparidades com o tempo , sobretudo, por receberem investimentos e atenção especial.
Pequenas superioridades iniciais gerem grandes incrementos com o passar do tempo – começar com pé direito é mais importante do que parece na vida pessoal e profissional.
Este post foi uma extensão da análise publicada no caderno “Mercado” da Folha de São Paulo, no 5 de novembro de 2012 do . Esta versão possui parceria com Leonardo de Siqueira Lima .