E o fim do Euro?
30/12/12 06:00Nesta e na próxima semana, o Mundo Econômico trará especiais sobre a zona do euro e sobre os Estados Unidos, respectivamente.
O final do mundo foi anunciado em 2012 por inúmeros profetas desde que os que se basearam em artefatos maias, alinhamento de planetas e até mesmo em Nostradamus. Até a data deste artigo, nenhuma catástrofe aconteceu.
Essas previsões apocalípticas jutam-se a outras com o cometa Halley em 1910; com o suposto apocalipse bíblico em 1982; a invasão alienígena de 1997; o Bug do milênio em 2000 e a de um pastor norte-americano em 2008 .
O Euro também fez parte das profecias de 2012, grande parte dos economistas apostaram que esse ano seria o último da moeda e que o estopim do apocalipse europeu seria a “saída da Grécia”.
Alguns falaram em saída da Espanha ou da Alemanha como evento inicial da previsão macabra. A verdade é que nada disso ocorreu e o euro sobreviveu; em estado grave, mas sobreviveu.
Vale uma pequena retrospectiva
O “fim”; em grego: Το τέλος …
O ano começou a todo vapor no velho mundo. Logo em janeiro, a S&P rebaixou os ratings de 16 (de um total de 17) países da zona do euro. No mesmo período, os países da zona assinaram um acordo para limitar o déficit público.
As atenções voltaram-se para a Grécia e para os problemas que o país poderia enfrentar para pagar sua dívida. Mas, em fevereiro, o país conseguiu, junto com um plano de austeridade extremamente impopular, a maior reestruturação de dívida soberana da história. Assim, o primeiro desafio desse épico grego foi vencido.
Em Março, o Banco Central Europeu decidiu injetar mais liquidez nos mercados para desafogar os bancos da zona, principalmente, os periféricos. O Banco realizou uma segunda operação de financiamento de longo prazo, onde forneceu crédito barato aos bancos.
Dois meses depois, sinais da insatisfação europeia com a crise surgiram novamente. A oposição ganhou as eleições na França. O socialista François Hollande assumiu o país com a promessa de ter o crescimento econômico como principal objetivo. Hollande não conseguiu que a França atingisse a recuperação econômica, mas parece ter ajudado a mudar um pouco a mentalidade conservadora dos líderes europeus.
Enquanto isso, a Espanha lutava para garantir a sobrevivência de seu sistema financeiro. Em Maio, via emissão de títulos públicos, o país injetou 19 bilhões de euros em um de seus bancos: Bankia.
O mundo olhou novamente para o país da tragédia e da comédia. Com a aproximação das eleições gregas, o temor de que a extrema esquerda assumisse a Grécia e decidisse pelo calote aos investidores estrangeiros era grande. No fim, o partido conservador ganhou as eleições e formou um governo de coalizão. Mais uma vez, o perigo foi afastado e o épico continuou.
A recuperação econômica estava longe, mas o grande tumulto havia passado. O bloco econômico acostumado a emergências pôde respirar um pouco. As conversas então voltaram ao recorrente tema do sistema bancário da região. A necessidade de uma união bancária começou a ficar evidente, mas pouco foi resolvido sobre isso até o fim do ano. De imediato, somente foi fechado um acordo para recapitalização dos bancos.
… em espanhol: el final …
Com o tema dos bancos em destaque, os problemas espanhóis ficaram evidentes. A recessão, o sistema bancário frágil e o excessivo endividamento público deixaram os investidores preocupados.
É interessante lembrar que a grande dívida pública do país foi resultante de medidas para recapitalizar e recuperar o sistema financeiro espanhol. O mercado viu tal situação como um ciclo vicioso e os spreads dos títulos públicos espanhóis dispararam.
O alívio só veio quando o Banco Central Europeu declarou que poderia comprar títulos de países necessitados. O plano era comprar, no mercado secundário, títulos públicos de se houvesse um pedido de ajuda e se o país realizasse reformas importantes. Somente o anúncio dessa possibilidade aliviou o custo da dívida espanhola.
Logo depois, os governantes da região anunciaram um fundo permanente para socorro de países endividados, o Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM). Com essas novas medidas, a Espanha foi capaz de aguentar os problemas e terminar o ano dentro da zona do euro, mesmo que com um desemprego recorde e em estagnação econômica.
Já em Outubro, logo após Portugal anunciar outro pacote de austeridade fiscal, o desemprego na zona do euro aumentou. A taxa chegou ao nível recorde de 11,7%, com destaque para 26,2% na Espanha e 25,4% na Grécia.
… em alemão: progress!
Apesar de inúmeras profecias e dificuldades, nem o mundo nem o euro acabaram. A Europa continua enfrentando uma crise gigantesca com um desemprego assustador, mas a sua união continua viva.
De certa forma, a Zona do Euro viu um avanço em 2012. Países mudaram seus discursos e acordos foram feitos para garantir maior discricionariedade e efetividade nos períodos de crise.
A criação do Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM) é um exemplo. Outro exemplo foi o acordo em relação à união bancária na zona. O Banco Central Europeu será o responsável por supervisionar e fiscalizar todo o sistema financeiro europeu. Mesmo sendo o acordo frágil e incompleto, há progresso e não se pode negar que um avanço é um avanço.
Em parte, a União Europeia parece ter tal ideia como lema. Ela aceita todo e qualquer passo como sendo uma conquista. Poder ter superado o ano sem perdas maiores e com o fraco esboço de algo novo satisfez ou, pelo menos, pareceu satisfazer os políticos da região.
Pouco é feito para que haja progressos significantes. O importante é que se faça algo, mesmo que sejam ações pequenas .
A recuperação econômica da região está longe. Se aparecer, deve vir lenta e gerada por fatores externos como o crescimento da China ou dos Estados Unidos. Tudo indica que a região passará por outro ano com mais baixos que altos.
A boa notícia é que, talvez, o euro possa se consolidar no longo prazo e a região possa desfrutar de um crescimento e desenvolvimento econômico sem precedentes. A má notícia é que no ritmo em que as reformas se apresentam, há de existir muita paciência dos cidadãos europeus, em especial, portugueses, gregos e espanhóis. É… quem sabe os líderes políticos do maior bloco econômico do mundo aprendam que não dá para matar a fome com água.
Post em Parceria com a Consultoria Júnior em Economia (CJE) da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.