Sinalização – Carros usados, Eike Batista e o Intervencionismo Brasileiro
03/01/13 10:14Central na agenda dos economistas é a compreensão de aspectos que influenciam a eficiência da economia. Existem falhas de mercado, normalmente relacionadas às incertezas e a falta de informação entre os agentes econômicos, que dificultam o bom funcionamento dos mercados e geram má alocação de recursos, distorções de preços, insatisfação e custos não esperados.
Vejamos como exemplo o famoso caso do mercado de carros usados. Suponhamos que nesse mercado existam dois tipos de carros: os bem conservados e os mal conservados. Suponha também que os carros bons custem 20 mil reais, enquanto os ruins devem valer algo abaixo desse valor (10 mil reais). Como a qualidade do carro é uma informação não observável pelo consumidor- não é possível garantir que não haja nenhum problema mecânico, por exemplo -, este não consegue distinguir o seu real valor e, por isso, não estará disposto a pagar 20 mil reais pelo veículo. Afim de não correr o risco de ser enganado, o comprador pagará algo como a média de preços, 15 mil reais.
Para esse preço, no entanto, o vendedor do carro de alta qualidade não estará disposto a vendê-lo: é claro, se o carro vale 20 mil, por que vendê-lo por 15 mil? O que ocorre é que esses vendedores sairão do mercado, e restarão apenas os vendedores de carros mal conservados. A assimetria de informação, isto é, a falta de transparência de informações entre as partes, gera um desequilíbrio no mercado tal que os carros bons não seriam ofertados, a despeito da vontade dos vendedores em fazê-lo.
Essa idéia de assimetria de informação é de tanta importância que rendeu o Prêmio Nobel ao Economista George Akerlof em seu artigo “The Market for Lemons: Quality Uncertainty and the Market Mechanism” no qual discute esse caso em que o vendedor sabe mais sobre o produto vendido do que o comprador. Esse é um dos motivos econômicos pelo qual um carro usado geralmente vale menos do que o proprietário pede, pois para estes sim valeria a pena vender um carro de 10 mil pelo preço de 15, para os outros não.
Se o consumidor pudesse identificar previamente qual tipo de carro estaria comprando, então certamente resolveríamos esse problema. Para mitigar isso o vendedor poderia, por exemplo, oferecer um seguro extra ao cliente, cobrindo eventuais despesas caso ocorra problemas com o carro. A própria oferta desse seguro é suficiente para gerar no consumidor a crença de que se trata um carro do tipo bom e, assim, estaria disposto a pagar os 20 mil reais pelo carro.
A sinalização serve, nesse sentido, como um mecanismo que diminui incertezas e distorções no mercado, tornando visíveis particularidades antes não observáveis e que permitem uma maior eficiência e transparência nas transações econômicas, favorecendo as decisões e negociações.
Sabendo disso, sites de comércio eletrônico como MercadoLivre e eBay oferecem uma extensa avaliação de cada um de seus vendedores, através da exibição de estatísticas e comentários de clientes anteriores. De fato, poucas pessoas comprariam caso não soubessem a reputação do vendedor.
Outro exemplo é o caso do empreendedor Eike Batista, que foi capaz de criar grande parte de seu patrimônio por meio da sinalização que emitia para o mercado e para os investidores. Apesar de seus projetos ainda estarem em fase pré-operacional, sem geração de receita, a expectativa criada pelo empresário acerca da qualidade de suas empresas foi suficiente para os investidores acreditarem que se tratava de bons empreendimentos. Temos, portanto, um caso no qual a sinalização gerou bons resultados.
Por outro lado, há também casos de sinalizações que podem prejudicar os mercados. No Brasil, as recentes medidas das autoridades econômicas nos setores de gás, energia e telefonia prejudicaram várias empresas, que viram as “regras do jogo” serem repentinamente alteradas. A postura atual do governo sinaliza seu caráter intervencionista e gera a interpretação, do ponto de vista do investidor, de que novas alterações regulatórias podem ocorrer a qualquer momento.
Nesse caso, o resultado da sinalização é indesejável: o país já vê desaceleração dos investimentos privados, refletindo a incerteza das empresas em serem prejudicadas no futuro por mudanças na regulação.
Portanto, através desses três diferentes exemplos vimos do que a simples sinalização é capaz. Quando bem utilizada colhemos os resultados antes mesmos das conclusões dos fatos, como no caso do empresário Eike Batista. Os agentes que perceberem essas conseqüências tanto na área econômica quanto na área pessoal terão uma poderosa ferramenta ao seu favor.
Post em parceria com Leonardo de Siqueira Lima, graduando pela EESP-FGV, e Ricardo Mendonça Domingues, graduando pela EPGE-FGV.