Oito ou oitenta...
06/01/13 00:00Nesta semana, o Mundo Econômico trará um especial sobre os Estados Unidos, assim como o especial passado sobre a Zona do Euro.
Em um ano marcado por dificuldades climáticas e sociais, os Estados Unidos pecaram por oras escassez e, oras por exagero. Enquanto que a Casa Branca encontrava dificuldades para governar o país, o FED usava de estratégias monetárias agressivas.
Eu discordo, tu discordas, nós atrasamos…
Nem um desastre natural da magnitude que possuiu o furacão Sandy, nem as catástrofes sociais dos três tiroteios que mataram vários inocentes foi capaz de gerar uma aliança promissora entre democratas e republicanos. Durante todo o ano, a disputa eleitoral tomou conta de todo o país .
De um lado, Obama defendia seu atual cargo, do outro, Mitt Romney guerreava para assumir a presidência da maior economia do mundo.
As batalhas foram sangrentas e deixaram feridos: críticas, mentiras, discursos, insinuações não faltaram nos debates. No final da guerra, a defesa foi a vitoriosa com a reeleição de Obama.
Pena que os maiores prejudicados do espetáculo foram os próprios eleitores e que sofreram com as discórdias entre republicanos e democratas durante o ano.
Ainda sofrendo as consequências da crise de 2008, o país precisava de políticas que estimulassem o crescimento econômico, seja por intervenção estatal, seja por estímulo ao setor privado, mas as medidas necessárias não passaram pelo Senado ou pela Câmara dos Deputados.
No balanço final, os americanos amargaram um ano de política fiscal praticamente ausente. Até mesmo o acordo sobre o fiscal cliff só chegou no último instante, já em 2013.
Precisa de dinheiro?? A gente imprime…
Então, já que os EUA sofria de falta tanto de chuvas para suas safras quanto de Estado para sua economia, algo precisava de ser feito. O país precisava de estímulos e o FED encontrou um jeito: injetar dinheiro, muito dinheiro.
Em setembro, quando os EUA mostrava sinais de que o crescimento econômico estava longe, o Federal Reserve resolveu intensificar seu programa de compra de ativos. A partir dali, a instituição compraria US$ 40 bilhões de títulos ligados ao mercado imobiliário por mês até quando a recuperação chegasse.
Depois de já ter mantido os juros próximos a 0% e ter aumentado o plano de compra de ativos, parecia que o Banco Central norte-americano não teria mais o que fazer. Isso não foi o que pensou Ben Bernanke. No fim do ano, ele anunciou que essa política monetária seria mantida até que o desemprego seja menor que 6,5% ou que as expectativas de inflação superem 2,5% ao ano, posição bem mais agressiva que a prevista pelo mercado.
Na medida que a Casa Branca esperava, o FED agia. No fim, as coisas podiam ser muito melhores. O excesso de política monetária compensou, em parte, a ausência de política fiscal, mas na vida e na economia, tudo em excesso faz mal e a economia norte-americana pode vir a sofrer efeitos colaterais indesejados como o Japão vem sofrendo.
O ano acabou, então, com excesso de dinheiro e ausência de governo.
E 2013?
O recente acordo para impedir aumentos de impostos e cortes de gastos governamentais mostra um avanço na cooperação política do país. Porém, apesar de tal medida ter sido extremamente necessária e urgente, o acordo veio tarde e mostrou que não há tantas semelhanças entre republicanos e democratas.
É difícil prever se os partidos irão manter uma posição amigável ou se eles irão gladiar novamente. A situação fica mais complicada quando o Senado manteve maioria democrata e a Câmara continuou republicana. Algo deve melhorar, mas atrasos serão sempre existentes.
Quanto à política monetária, o FED deve manter sua postura e continuar aumentando a transparência e comunicação com o mercado. Outros programas de compra de ativos não devem ser anunciados tão cedo.
Por fim, a economia americana deve iniciar uma recuperação mais rápida. O crescimento nos últimos trimestres mostraram tendências de alta para o futuro. Além disso, a não ocorrência do abismo fiscal deve aumentar a confiança privada e estimular investimentos. Nada de excepcional virá, mas melhoras são possíveis e, de preferência, sem o atraso das decisões políticas norte-americanas.
Post em Parceria com a Consultoria Júnior em Economia (CJE) da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.