Triste fim do consumidor de telefonia móvel
21/01/13 06:45O avanço tecnológico, o já não tão recente incentivo ao consumo em massa pelo governo e a capacidade inata e insaciável do brasileiro de se comunicar têm contribuído para a expansão do mercado interno de telefonia, que vem crescendo rapidamente nos últimos anos.
Em outubro de 2010, a quantidade de celulares no país ultrapassou o número de habitantes, com pouco mais de 194,4 milhões de contas. Dados mais recentes da Anatel, de novembro de 2012, apresentam aproximadamente 260 milhões de linhas ativas.
O crescimento impressiona, mas não chega a ser tão assustador quanto a qualidade dos serviços oferecidos. Com tamanha expansão, o setor não tem conseguido acompanhar a demanda, gerando serviços de baixíssima qualidade e o extraordinário aumento no número de reclamações.
Mensalmente, são registradas pela Anatel dezenas de milhares de queixas sobre as operadoras de telefonia celular. Punições são aplicadas, mas o mercado continua sofrendo constantemente com ineficiências operacionais.
Grande parte do problema está relacionada à baixa competição no setor. Apesar de aparentemente acirrada, a disputa não apresenta nenhuma empresa com serviços de destaque e melhor qualidade que impulsione suas rivais.
Para piorar ainda mais a situação, o consumidor fica restrito às opções internas, já que não pode contratar nenhum serviço de telefonia mais vantajoso de outro país.
Nos Estados Unidos, por exemplo, um plano mensal como o famoso “Fale Ilimitado” custa 70 dólares (aproximadamente R$143,00) para qualquer operadora, enquanto aqui paga-se mais de R$500,00 por plano semelhante e com qualidade de serviço muito inferior.
Desta forma, o usuário insatisfeito opta por não alterar sua triste condição; afinal, todas acabam sendo ruins. Os que já desejaram mudar de operadora precisaram manifestar sua vontade de desistir do plano a um exército de incansáveis atendentes, além de saberem que o serviço de outras companhias não será muito melhor. Pode-se dizer que há uma grande barreira para trocar menos seis por menos meia dúzia. Outra barreira dessa corrida de obstáculos é encontrada ao se tentar recorrer à Anatel. O contato por telefone é tão difícil, que ao consumidor só resta enviar reclamações por email, carta ou telepatia. E com reza brava para ter algum retorno.
Enquanto os esforços de do Governo não se voltarem ao consumidor, e multas severas não forem aplicadas, usuários amargurados e muitos outros – namorados, amigos, pais e filhos – ficarão à mercê de empresas muito mais preocupadas em aumentar suas vendas hoje do que em manter seus clientes satisfeitos e leais no longo prazo.
Versão ampliada do artigo publicado no dia 2q de janeiro no caderno Mercado da Folha de São Paulo