Margem de lucro menor de bancos pode ajudar a reduzir inadimplência
28/01/13 07:00Existe, na crença popular, uma imagem mística sobre os bancos comerciais e seu funcionamento interno. Para alguns, dentro dos cofres dos bancos há mais dinheiro do que na casa do Tio Patinhas, e as moedas se multiplicam em árvores que geram milhares de reais diariamente.
Infelizmente, não existe qualquer magia que faça o dinheiro brotar dentro dos bancos. Há, na realidade, uma série de técnicas meticulosamente estudadas que aumentam o lucro destas instituições, sendo a concessão de crédito uma das principais.
Oferecido em pele de cordeiro, o lobo mau conhecido como crédito bancário promete recuperar a saúde financeira do indivíduo, quando na realidade está pronto para abocanhá-lo a qualquer momento com elevadas taxas de juros. Para piorar, diferente da chapeuzinho vermelho, nenhum caçador vem ao resgate.
As taxas de crédito, como por exemplo a média de 9,38% cobrados no cartão e no cheque especial, chegam a ser 20 vezes maiores que os pobres 0,45% da poupança dos cidadãos mais precavidos.
A diferença entre a taxa cobrada pelo banco a seus tomadores de empréstimo e a taxa paga pelo banco a seus clientes poupadores – e que na realidade emprestam dinheiro ao banco – é conhecida no jargão econômico comospread bancário.
Há diversos fatores que compõem esta ferramenta, como a farta margem de lucro do banco e os custos com os quais a instituição tem de arcar, como taxas, depósito compulsório, despesas administrativas e inadimplência.
Este último fator, inadimplência, é alvo de críticas do setor bancário junto ao governo, com alegações frequentes de que os altos níveis de inadimplência obstruem o crescimento da indústria e retardam o desenvolvimento do país.
A preocupação é válida, mas curiosa por vir dos bancos, já que o spread no Brasil é um dos maiores do mundo.
A relação entre inadimplência e spread é uma via de duas mãos: um aumento na inadimplência sugere a ampliação do spread; da mesma forma, uma elevação do spread põe a taxa de juros em patamares impraticáveis, gerando novamente um aumento da inadimplência.
Talvez uma redução nas margens colabore para a redução da inadimplência. No entanto, pelo histórico brasileiro, podemos apostar mais em um colapso financeiro do que em uma boa ação em prol dos cidadãos.
Por último, não podemos esquecer que os bancos decidem para quem vão conceder o crédito, e, dessa forma, acusar inadimplência é como um dono de restaurante justificar preços exorbitantes pelo fato de seus funcionários desperdiçarem comida descontroladamente.