O poder da teoria econômica
14/02/13 07:00O livro An Engine, Not a Camera: How Financial Models Shape Markets (The MIT Press, 2006), do sociólogo Donald MacKenzie, doutor pela Universidade de Edimburgo e ganhador da Medalha Napier, é um marco na análise histórica, sociológica e econômica do mercado financeiro.
O título é uma referência seminal ao trabalho de Milton Friedman sobre metodologia na teoria econômica; a metáfora que invoca é que a economia deve ser “um motor para analisar [o mundo], não uma reprodução fotográfica deste”. MacKenzie discorre sobre o desenvolvimento do mercado financeiro e da teoria financeira, e como ela se tornou esse ‘motor’ de análise, por meio de uma coletânea de entrevistas com atores renomados.
Nomes como Leo Melamed, Eugene Fama, Merton Miller, Nassim Taleb, William Sharpe, entre outros, forneceram a MacKenzie um relato em primeira mão de suas experiências, acadêmicas e práticas, no mercado financeiro.
Um dos exemplos que o autor investiga está no mercado de opções e no famoso modelo de Black-Scholes. No caso, o autor aborda a situação econômica e sociológica dos derivativos ao longo da história. Inicia analisando os antecessores, desde a Companhia das Índias Orientais, passando pela onda de hostilidade oriunda da Grande Depressão, e pela década de 1970, quando os derivativos eram, em sua maioria, considerados ilegais e equiparados à jogatina. A partir do quadro, MacKenzie analisa a desenvolvimento do modelo teórico, tratando do artigo que valeu o Nobel de Economia aos seus autores, e termina apresentando o panorama atual do mercado de opções à data da publicação.
Um dos pontos mais importantes está na passagem que detalha a abertura da Chicago Board Options Exchange e a influência do modelo nos padrões de preços dos derivativos: no início, não havia muita correspondência entre o previsto pelo modelo econômico e o observado na prática; isso começou a se inverter a ponto de existirem estudos (como, por exemplo, o feito por Rubinstein) que indicam que os preços estavam se comportando de acordo com o modelo. “A prática que o modelo Black-Scholes-Merton sustentava ajudou a criar uma realidade na qual o modelo era ‘substancialmente confirmado’.” Porém, isso deixou de ser observado após a crise de 1987. A importância do caso dos derivativos é justamente ilustrar como a teoria econômica, que muitas vezes é fruto de observação empírica, pode criar a dinâmicas econômicas e afetar diretamente o mercado.
Enfim, a ascensão do modelo Black-Scholes é apenas um dos episódios da rica história relatada no livro, cuja tese certamente se beneficiaria de mais discussões. A polêmica idéia de que a teoria não só descreve o mercado, mas também pode criar um ambiente para que o mercado corresponda mais prontamente à teoria, merece ser debatida. Não obstante, a pesquisa realizada por MacKenzie é essencial para qualquer um que queira entender a teoria e o mercado financeiro moderno.
Post em parceria com Rafael Galvão, economista formado pela EESP-FGV e mestrando em Economia pela UFSCar Sorocaba.