O Lucro Brasil
25/02/13 07:00Muito se ouve falar sobre o famigerado Custo Brasil. O termo é empregado tantas vezes no meio econômico que algumas vezes chega a parecer nome de novela ou de programa televisivo que ninguém aguenta mais. Essa insistência está relacionada a seu papel na sociedade: o de vilão.
Considerado o responsável pelo encarecimento dos produtos vendidos no país, o Custo Brasil consiste nos diversos obstáculos burocráticos, econômicos e estruturais que reduzem a eficiência da indústria nacional.
Em muito faz sentido atribuir a culpa pelos altos preços internos a este conjunto de variáveis. O empresário tupiniquim enfrenta, de fato, taxas de juros copiosas e uma inflação desastrosa que reduzem os incentivos a investir e dificultam o sucesso de novos negócios.
Há também, a já reconhecidamente morosa burocracia, que faz do Brasil um dos países mais lentos do mundo na abertura de novas empresas. Segundo dados do Banco Mundial (2012), toma-se em média 119 dias para criar um novo negócio, enquanto nossos vizinhos argentinos levam meros 26, e os uruguaios esperam apenas 7 dias.
O cenário é realmente crítico, e chega até a parecer que o empresário brasileiro vive em um ambiente completamente desfavorável durante toda a sua existência, e, como um grande mártir do mercado, faz um imenso esforço de sobrevivência apenas pelo bem estar social.
Mas não se deve esquecer que, no capitalismo, um negócio não-lucrativo jamais é levado adiante. Aqueles que conseguem ultrapassar todos os contratempos já citados aproveitam para tirar uma casquinha do bolo –ou, na verdade, abocanhar uma grande parcela.
Além do Custo Brasil, carregamos também um fantasma dos preços que ainda não possui um nome definido, mas que poderia ser chamado, sem injustiças, de Lucro Brasil.
O lucro no Brasil não é nada modesto –e nem pretende ser; ele é importante, e tão importante que precisa ser o maior do mundo.
No mercado automobilístico, por exemplo, o Brasil é campeão mundial na categoria preço. Sem impostos, um Ford Focus vendido por aqui custa aproximadamente R$39.600,00, enquanto que nos Estados Unidos, o mesmo modelo vale pouco mais de R$30.700,00 incluindo taxas (valores convertidos de dólares para reais).
O mesmo ocorre em outros setores como o imobiliário e em serviços como banda larga e televisão a cabo. Este último bate os recordes no quesito cobrança, e fica em um dos últimos lugares na categoria qualidade.
Se participasse de uma Olimpíada de preços e lucro, o Brasil daria de 10 a 0 em todos os seus adversários. Mas enquanto esse prêmio não aparece, quem vai continuar tomando de 10 a 0 é o consumidor brasileiro, refém inato –e algumas vezes cúmplice— da dupla dinâmica Custo e Lucro Brasil.