Porque jogadores de futebol vêm das classes baixas?
28/02/13 07:00Em um recente post, utilizamos o conceito de custo de oportunidade, um dos mais importantes na economia, para explicar fatos cotidianos como, por exemplo: “Porque haverá sempre menos estacionamentos do que o necessário e com preços abusivos”. De maneira resumida, o fenômeno é explicado pelo fato do empreendedor obter uma receita menor com seu estacionamento do que poderia, caso ele vendesse seu cobiçado terreno para uma empreiteira, e simplesmente investisse em títulos do governo. Ou seja, é o custo de não dar outra finalidade àquele recurso.
Assim, o custo de oportunidade pode ser resumido em: o que estamos abdicando quando tomamos uma decisão. Esse conceito também pode ser aplicado em outras ocasiões do dia a dia. E hoje, iremos utilizá-lo para explicar o mercado de futebol.
Muitos já devem ter reparados que, em todos os times de futebol, no mínimo 90% dos atletas são oriundos das classes mais baixas da sociedade. Será que jovens de classes altas e mesmo médias não possuem o sonho de serem jogadores de futebol? Ou então não sabem praticar esse esporte? Provavelmente não. Não precisamos ir muito longe, para vermos que praticamente qualquer criança, independente da classe social, sempre sonhou em se tornar jogador de futebol.
Mais uma vez, usamos os conceitos econômicos para explicar situações como essa.
Geralmente as pessoas decidem até os 15 anos de idade o que querem seguir na vida. Carreiras como futebol são promissoras, mas com pouca probabilidade de sucesso. Provavelmente menos de 0,1% das pessoas que pensam ser jogadores de futebol conseguem se tornar um profissional de sucesso.
Então o jovem ou os pais do jovem pensam, mesmo que de forma intuitiva, no custo de oportunidade para tomar essa decisão. Conforme a idade vai avançando, chega a hora de tomar a famosa decisão: investir na carreira de futebol, ou investir em outra profissão ou mesmo em uma universidade?
Para um cidadão de classe média ou alta, caso escolha a opção de desistir da carreira de jogador, tem boas perspectivas de ser admitido em uma universidade e de vir a ser médico, advogado ou executivo.
Embora hoje a educação esteja cada vez mais ao alcance de todos, o jovem das classes mais baixas ainda tem dificuldade no acesso à educação e ao mercado de trabalho, esse raciocínio é um pouco diferente para ele: Ou o jovem segue nessa carreira de jogador de futebol, ou provavelmente terá que ir atrás de um emprego, aquele que lhe aparecer. Dessa forma o custo de oportunidade dele, ou seja aquilo que está abrindo mão, é muito mais baixo do que o custo de oportunidade do jovem mais “privilegiado”. E, por isso, vale mais a pena para o jovem carente investir na carreira de jogador de futebol!
Não por coincidência, mais de 90% dos jogares de futebol vem das classes baixas. Um caso como o jogador Leandro Damião é um bom exemplo.
Damião jogou na várzea até 2010, então com 21 anos de idade, e foi descoberto sendo destaque inclusive na seleção brasileira. Caso Damião viesse de uma família com boas condições financeiras, é provável que ele por decisão própria, ou influência dos pais, já tivesse desistido de ser jogador para cursar uma universidade. Como Leandro vem de origens humildes, ele preferiu lutar por um sonho a ter um emprego comum e sonhar com o futebol todos os dias. Ainda bem que nem todos pensam racionalmente e utilizam a intuição para as escolhas da vida. O Brasil e os brasileiros agradecem.
Leonardo de Siqueira Lima economista pela EESP – FGV.