O Mito da análise técnica
28/03/13 07:00Muito se fala sobre o mito da análise técnica, uma maneira fácil e infalível de ganhar dinheiro investindo em ações baseado na crença de que o comportamento dos preços de um determinado ativo segue um determinado padrão.
Esse método também conhecido como grafismo está cada vez mais popular. Mas será que ele realmente funciona? Será que o preço de um ativo segue um padrão que se repete ao longo do tempo?
Pelo contrário… Segundo a teoria de finanças, afirma-se seguramente que o preço das ações segue o chamado passeio aleatório (“random walk”). O que quer dizer que é IMPOSSÍVEL prever o preço de uma ação apenas utilizando informações do passado.
Esse tema foi inclusive a tese de Ph.D de um dos mais renomados financistas, Eugene Fama, o pai da hipótese de mercados eficientes. Fama concluiu que os movimentos do preço das ações são imprevisíveis e seguem um passeio aleatório, apelidado por muitos como o andar do bêbado. Em outras palavras, o fato das ações da Petrobrás estarem a R$ 17,32 não nos dá nenhum indício de que não possam ir a R$ 5,00 ou a R$ 30,00 em um curto período de tempo.
Além disso, se todos acreditassem que o preço deveria ser, por exemplo, R$ 18,00, ninguém seria tolo de vender por R$ 17,32. De modo análogo, se houvesse consenso no preço a R$ 15,00, ninguém compraria a R$17,32. Dessa forma, por definição, o último preço é a melhor estimativa para o dia seguinte.
Apesar dos preços das ações possuírem essa característica de passeio aleatório, muitas coisas não o seguem e apresentam o que são chamadas de componente determinística, ou seja, o passado pode nos revelar alguma informação sobre o futuro, como o PIB de um país, por exemplo.
Dessa forma, não é por acaso que, em modelos econômicos de projeção de PIB, utiliza-se o crescimento econômico passado para estimar o crescimento futuro. Não se utiliza, no entanto, o preço passado de uma ação em modelos econômicos para se projetar o valor justo de um ativo.
O Brasil cresceu 0,9% em 2012. Isso nos ajuda a arriscar que dificilmente o país cresceria 10% ou -3% em 2013, a não ser que ocorra algum choque externo muito relevante. Já o fato da China crescer 7,8% nos dá informações relevantes que permitem dizer que seu crescimento vai ficar em torno de 6% a 9%, apenas olhando a informação passada. Esse tipo de informação somado a variáveis chaves nos ajudam a prever de maneira razoável o crescimento de um país para os próximos anos.
Por que os grafistas insistem tanto nisso, então? Porque eles não trabalham com a hipótese de mercados eficientes. Um mercado é considerado eficiente quando os preços dos ativos incorporam rapidamente todas as informações disponíveis a qualquer momento do tempo.
Como consequência dessas suposições, não há razões para acreditar que os preços estão muito elevados ou muito baixos do seu valor fundamental, pois a eficiência dos mercados colocaria os ativos sempre em seu preço justo. Para isso, Fama distinguiu a Hipótese de Mercados Eficientes em três tipos: forma forte, semiforte e fraca.
Forma Fraca: o preço atual dos ativos refletem todas as informações contidas no histórico dos preços passados. Ou seja, se essa forma for válida (e há forte evidência emprírica mostrando que sim), os grafistas vendem não mais que uma ilusão.
Forma Semiforte: Sob esta forma, os preços correntes dos ativos, além de refletirem os preços passados (forma fraca), refletem todas as informações públicas disponíveis. A afirmação por trás da forma semiforte é que não é possível obter lucro usando informações que já estão disponíveis para todos. Assim, além dos gurus da análise técnica, investidores que utilizem a análise fundamentalista não conseguiriam obter ganhos sistemáticos acima do mercado e a gestão ativa não traria resultados consistentes.
Forma Forte: Sob esta forma, os preços correntes dos ativos, além de refletirem os preços passados e as informações públicas (forma semiforte), também refletem todas as informações privadas, conhecida como “inside information”. Segundo esta hipótese, devido à velocidade da propagação das informações até então sigilosas, nem mesmo os gestores da empresa (insiders) estarão aptos a ganhar acima do mercado comprando ações da companhia após 10 minutos de sua decisão.
Evidências empíricas sobre a predominância da forma fraca no mercado são consistentes e conclui-se que o preço dos ativos refletem as informações mais públicas e mais fáceis de obter. Dessa maneira a análise técnica não geraria nenhum resultado, o que quer dizer que não há como detectar ativos subapreciados e obter ganhos acima da média do mercado baseado apenas nos preços passados.
Diante disso, as evidências empíricas para os que acreditam em determinados padrões são baixíssimas, como provou não só Eugene Fama, mas outros diversos estudos sobre análise técnica.
Apesar disso, algumas pessoas podem argumentar que viram alguma carteira que utiliza a análise técnica tendo um ganho muito acima do Ibovespa nos últimos doze meses. É importante lembrar que pegar uma exceção para justificar uma regra não é um bom método de provar algo.
Por exemplo, se pedirmos pra 1 milhão de pessoas lançar vinte vezes uma moeda. Provavelmente uma pessoa tirará 20 vezes cara – trata-se de sorte e não de habilidade, pois se você pedir para que a pessoa repita esse feito, ela dificilmente conseguiria. A isso, damos o nome de sorte.
Outro exemplo é tentar adivinhar os próximos números da loteria utilizando como informação os números do último sorteio. Como são eventos independentes, esse tipo de informação não contribui em nada para adivinharmos os próximos números.
Para os que ainda não se convenceram, mais uma pergunta: se a análise técnica é infalível, por que os gurus dessa área passam noites e finais de semana dando cursos sobre isso, enquanto poderiam estar aplicando essa técnica “infalível” para fazer a sua própria fortuna? Talvez esse questionamento já nos responda algumas questões…
Leonardo de Siqueira Lima economista pela EESP – FGV