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Caro Dinheiro

por Samy Dana

Perfil Samy Dana é Ph.D em Business, professor da FGV e escreve no caderno Mercado

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A difícil senão impossível tarefa de prever o futuro...

Por Samy
11/04/13 07:00

Recentemente, publicamos um artigo contendo as razões pela qual não acreditamos no mito da análise técnica. Argumentamos que é impossível prever o preço de uma ação baseando-se apenas no histórico dos preços passados, já que eles não apresentam um padrão consistente ao longo do tempo, como comprovam  inúmeros testes empíricos.

Rivalizando com a análise técnica, existe a análise fundamentalista, que consiste na utilização de dados públicos econômico-financeiros para prever os preços de uma ação. Assim, este tipo de análise lança mão dos fundamentos da empresa para estimar seu valor justo.

Apesar dessa modalidade possuir mais adeptos do que os grafistas, os resultados empíricos também não são contundentes e a aderência e consistência com dados reais é passível de questionamentos.

Sendo assim, será que é possível prever o preço de uma ação, independentemente da técnica utilizada?

Em nossa opinião, não! É muito mais difícil prever o futuro do que imaginamos. Nassim Nicolas Taleb ilustra muito bem essa ideia em seu livro “A Lógica do Cisne Negro”, mostrando o impacto do altamente improvável.

Curiosamente, o livro recebe esse nome porque as pessoas achavam que todos os cisnes eram brancos, até que alguém descobrisse um cisne negro na Austrália. Conclusão: não se pode afirmar que algo não existe, só porque o desconhecemos.

Pois bem, os modelos fundamentalistas para estimar o valor justo de um ativo geralmente utilizam previsão de fluxo de caixa futuro das empresas e para tanto geralmente projetam cenários, na maioria dos casos, os três clássicos: otimista, realista e pessimista.

O problema desse procedimento é que os cenários mais improváveis, ou seja, os cisnes negros em finanças, acontecem com muito mais frequência do que gostaríamos e acreditamos acontecer! Para piorar, quando eles ocorrem, são extremamente relevantes.

Por exemplo, nos últimos 20 anos ocorreram inúmeras crises… Alguém imaginaria crises como a argentina, mexicana, russa e tigres asiáticos? E as bolhas pontocom e imobiliária? Tivemos também os eventos trágicos como 11 de Setembro e até os desastres naturais como tsunamis, terremotos e outras catástrofes naturais.

Não apenas eventos negativos, mas também eventos positivos acontecem com muita frequência. Alguém poderia prever o surgimento da máquina a vapor? O surgimento da internet?

Foram estes eventos altamente improváveis que mudaram a ordem natural das coisas. Diante disso, não adianta apenas prever o preço de uma ação com eventos prováveis, já que o que define a história são os eventos raros, o que não está em nossos modelos, aquilo que não enxergamos.

Por exemplo: em 31/07 de 2006 as ações da Blackberry estavam cotadas a U$$ 21.87, com um método de mensagens instantâneas que era um sucesso, o BBM. Muitos recomendavam os papéis da empresa e um ano depois as ações chegavam a U$$ 124.51, uma valorização de 600%. Hoje a empresa perdeu 90% do seu valor. Um dos principais motivos foi o surgimento do Whatsapp, um aplicativo que envia mensagens gratuitamente para qualquer aparelho com acesso à internet, ao contrário do restrito BBM. Literalmente um cisne negro que ninguém previu.

Outro exemplo está no setor petroquímico brasileiro, tanto a Petrobrás, uma das ações mais rentáveis no início dos anos 2000, como as ações do grupo EBX, que, quando entraram na Bolsa, tiveram uma valorização de aproximadamente 50%.

Hoje as ações da Petrobrás perderam mais de 50% de valor e o grupo EBX vê suas ações atingindo a mínima histórica. O que aconteceu? Os analistas são incompetentes? Despreparados?

Obviamente não. No entanto, era muito difícil prever que o governo Dilma usaria a Petrobrás como instrumento para controlar a inflação, contendo os preços de seus produtos e prejudicando o balanço da empresa. Assim como também era quase impossível prever que a OGX encontrasse poços secos, frustrando as expectativas dos investidores.

É indiscutível que o preço de uma ação dependa do fluxo futuro de caixa, no entanto, as expectativas, em mercados mesmo que semi-eficientes, já estão incorporadas no preço. Em outras palavras, tudo que é previsível e público é computado, restando apenas o imprevisível e os eventos raros.

O que queremos dizer é, basicamente, o seguinte: não temos a mínima idéia do que vai acontecer de relevante nos próximos 2 anos, mas temos a certeza de que alguma coisa muito importante e inesperada, um cisne negro, acontecerá e mudará a ordem natural das coisas. E justamente esse imprevisível é o fator que terá maior relevância no mercado financeiro do que aquilo que já está precificado pelos analistas.

Portanto, antes de tentar começar a investir, lembre-se que diversos fatores não estão sob nosso controle. Os cisnes negros são responsáveis por fazer a nossa capacidade de previsão muito mais imprecisa do que gostaríamos.

Se déssemos alguns palpites sobre o futuro, saberíamos que estaríamos errados em praticamente todos eles. Porque temos a humildade de reconhecer que “é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro“.

Post em parceria com Leonardo de Siqueira Lima, economista pela EESP e  Giovana Carvalho, graduanda em Economia pela FGV-EESP.

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