Casamento: um direito de todos
16/04/13 07:00Seja pela expectativa de reforma na igreja com a chegada do novo papa, pela postura radical da bancada evangélica em nosso senado que está cada vez mais embrenhada na política, pelas declarações infundadas e preconceituosas de personagens como a cantora Joelma da Banda Calypso, pelas explicitas demonstrações de amor como a feita semana passada pela cantora Daniela Mercury à sua esposa , pela defesa ao respeito ao próximo independente de sua orientação sexual como demonstrado pelos atores como Alexandre Nero e Letícia Sabatella, a questão da legalidade do casamento de pessoas do mesmo sexo está sendo noticiada diariamente nos grande veículos e mídia.
Interessante notar que há uma semelhança enorme com as problemáticas históricas ocorridas no início do século XX sobre o casamento entre brancos e negros.
Enquanto países democráticos se mostram inclinados a aceitar juridicamente os relacionamentos homoafetivos, outros se rebelam como, por exemplo, na Uganda, Emirados Árabes Unidos, Sudão, Nigéria, Mauritânia, Arábia Saudita, Iêmen e Irã onde gays estão sujeitos a pena de morte.
Na história, a discriminação contra casamentos entre negros e brancos foi absolutamente repudiada em alguns países, como na triste Alemanha de Hitler e na retrógada legislação antimiscigenação que África do Sul mantinha até 1950. Até mesmo nos EUA, em 2011, no estado de Kentucky, uma pequena igreja decidiu não aceitar o casamento inter-racial, causando muita polêmica em diferentes grupos cristãos.
Afinal, por que duas pessoas, independente da cor, credo, sexo, altura, classe social, tamanho da perna, signo e outros se unem em um matrimônio?
Pode-se se dizer que há um interesse no bom sentido, ou seja, os dois indivíduos possuem uma troca que resulta em uma soma positiva.
Essa troca passa por várias dimensões: caráter, família, companheirismo, amizade, empatia, nível sociocultural, consumo, beleza e interesse . Todas essa características pesam para fazer um casal de sucesso. Se isso for verdade: porque não se pode encontrar algumas ou talvez todas estas características e mais algumas em uma pessoa do mesmo sexo? Qual o prejuízo para a sociedade?
Há praticamente 23 anos, a OMS (Organização Mundial da Saúde) tirou a homossexualidade da sua lista de doenças. No mesmo sentido, o CFP (Conselho Federal de Psicologia) no Brasil não permite que psicólogos tratem gays como doentes.
Recentemente a entidade se manifestou por meio de uma nota referente às declarações do pastor Silas Malafaia no programa “De frente com Gabi do SBT”, o CFP escreveu “É lamentável que exista um profissional que defenda uma posição de retrocesso que chega a ser quase inquisitório, colocando como vertentes do seu pensamento a exclusão e o preconceito na leitura dos direitos humanos”
Infelizmente algumas vertentes religiosas, insistem em tratar casais do mesmo sexo como aberrações e ainda contestam a conduta moral de gays estabelecendo que há uma incapacidade de educar uma criança.
Não se pode esquecer que vivemos em um estado laico, livre e democrático – antes de qualquer coisa devemos respeitar valores que são garantidos pela constituição.
Deixar os homossexuais à margem da sociedade faz com que, até mesmo por defesa, o grupo se porte em gueto. Esse tipo de atitude afasta o gay de sua família e em alguns casos, faz com que esse seja enrustido, assumindo uma segunda identidade.
Esse procedimento ocorre também no mundo de celebridades – Ricky Martin, Ellen DeGeneres e outros demoraram a se assumir. No Brasil, tivemos há pouco mais de um ano, um discreto posicionamento, Marco Nanini. Se existe preconceito em áreas artísticas, teoricamente mais abertas e modernas, pode-se se imaginar o quanto muitos indivíduos sofrem com isso
Esse fenômeno, lamentavelmente, realça ainda mais fantasias e pré-conceitos a respeito deste meio, hábitos e valores. Cria-se um irreal estereótipo fruto de inúmeros anos de afastamento social.
Também não são raros os casos de gays agredidos na rua, expulsos de restaurantes e centros comerciais, como foi o caso ocorrido há alguns anos no Shopping Frei Caneca que foram retirados e ofendidos por um segurança.
Para pessoas com este tipo de comportamento intolerante, o gay deve se esconder em bares próprios, dentro de suas casas e ficar literalmente no submundo e quando saírem às ruas devem adotar uma máscara a fim de passar despercebido.
A sociedade, por mais moderna que se declare, ignora solenemente o artigo II da declaração universal dos direitos humanos – “toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.” Repare que a palavra sexo, assim está descrita por englobar não apenas gênero, mas também orientação sexual, desejo.
Já passou a hora de deixar velhas crenças para traz e aceitar que o gay é assim como o hétero um cidadão, que tem direito a ter um relacionamento reconhecido pela sociedade, casa própria, financiamento, herança, filhos etc.
Post em parceria com Gabriel Armando Barreiros, Economista pela Fundação Armando Alvares Penteado.