Cigarros, moral e respeito à vida
15/05/13 07:00“O mais valioso entre todos os capitais é aquele investido em seres humanos.” A célebre frase de Alfred Marshall nem sempre é aplicada na prática. É comum escutar críticas aos economistas por preocupar-se demasiadamente com números e esquecer-se das pessoas.
A discussão moral que mais permeia a ciência econômica é motivada por questões como: seria a moral um problema passível de ser quantificado em custos e benefícios? Existem deveres e direitos humanos elementares, superiores a discussões do que gera maior benefício?
Respondendo a questões como essa, duas correntes de pensamento ganham relevância. O utilitarismo defende que a moral se destina a maximizar a felicidade, buscando o que gera maior prazer e evite o sofrimento.
Já a corrente libertária defende que as consequências sociais não são as mais importantes para a tomada de decisão, que antes há deveres e direitos que devem alicerçar as ações tomadas.
A Phillip Morris, uma empresa fabricante de tabaco de alta relevância mundial fez um estudo polêmico na República Tcheca, país onde o tabagismo continua sendo bastante comum e arraigado na sociedade.
Incomodada com o aumento da taxação de seus produtos, a companhia realizou uma pesquisa evidenciando que pessoas dependentes de cigarro eram, liquidamente, benéficas para as contas públicas.
Isso porque, mesmo acarretando maiores despesas com tratamentos de saúde ao longo de sua vida e deixando de contribuir com impostos mais cedo, na média, os fumantes morriam prematuramente, permitindo ao governo economizar com gastos em saúde pública, previdência social, abrigos para idosos.
Assim, o estudo concluiu que a economia para o tesouro tcheco, com o tabagismo, era de US$147 milhões ao ano, ou seja, US$1227 por fumante.
Evidentemente, a tentativa de melhorar a imagem da empresa por meio desse estudo foi muito mal aceita pela sociedade e grupos anti-tabagistas apontaram que uma empresa de tabaco estava se gabando da confissão do fato de seu produto matar.
Posteriormente, um diretor executivo da companhia declarou que a pesquisa representava “um desrespeito absolutamente inaceitável pelos valores humanos básicos”. E, de fato, não se pode negar que a frieza da pesquisa acabou por afrontar, desrespeitar a vida humana.
No entanto, embora muitos acreditem que uma perspectiva utilitarista consideraria apenas os prós e contras fiscais, como feito no estudo retratado, isso não é verdade. A análise resultou de uma má aplicação do utilitarismo, uma vez que esse, quando bem aplicado, também consideraria o prejuízo a saúde como um todo, a diminuição do bem estar social, o sofrimento das famílias.
Post em Parceria com Giovana Carvalho, graduanda em Economia pela FGV-EESP