Brasil com S e não com Z...
13/06/13 07:44Na semana passada, a última edição da prestigiada revista The Economist dedicou um artigo inteiro ao Brasil. Mais uma vez, claro, não foi para nos elogiar. As políticas econômicas foram duramente criticadas e não faltaram ironias sobre a manutenção do cargo do nosso Ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Até aí tudo bem… O problema é que em um artigo anterior, a revista chegou a pedir a saída do ministro da Fazenda. O trecho a seguir foi tirado da própria revista: “Foi amplamente noticiado no Brasil que nossa impertinência teve o efeito de tornar o ministro da Fazenda intocável. Agora, vamos tentar um novo caminho. Pedimos que a presidente (Dilma Rousseff) mantenha-o a todos os custos: ele é um grande sucesso”.
Esse fato nos faz lembrar um recente comercial das sandálias Havaianas no qual dois brasileiros estão reclamando dos problemas do Brasil que, apesar de suas belezas, apresenta diversos problemas… Quando um argentino que está acompanhando a conversa resolve se juntar a eles para também falar mal do país, os brasileiros logo se retraem e dizem “Que problema o que, rapaz? Esse país é maravilhoso, não tem problema nenhum!”
Pois bem, é esse mesmo tipo de sentimento que acho que esses artigos como esses incitam em nós brasileiros.
Nós mesmos somos críticos assíduos do governo na tentativa de gerar debates construtivos e demonstrar opiniões adversas que nos tornam uma democracia. É obvio que temos os nossos problemas. É claro que por vezes fazemos políticas precipitadas. A queda da popularidade da presidente Dilma, o rebaixamento da perspectiva da dívida pela agência Standar & Poor´s e as recentes manifestações nas ruas, não nos deixam dúvidas de que temos que trabalhar. Mas o que é estranho é uma revista britânica ter a pretensão de interferir nas nossas políticas econômicas.
Nesse sentido, a presidente Dilma foi feliz e firme em seu comentário “nenhum jornal pode propor a queda de um ministro… O governo brasileiro eleito pelo voto direto e secreto não vai ser influenciado por uma opinião de uma revista que não seja brasileira”.
Mas estranho ainda é que a própria The Economist em Novembro de 2009 fez do Brasil o tema de capa que contou com 14 páginas de enormes elogios. A matéria intitulada Brazil Takes Off (“Brasil decola”) expunha as qualidades da “maior história de sucesso na américa latina”.
O país havia sido recém-escolhido como sede das Olimpíadas de 2016 e passado praticamente incólume pela crise econômica de 2008. Por ironia, a matéria, incluía até um perfil da, então, ministra Dilma Rousseff.
Sem dúvidas, temos grandes desafios pela frente, seja do ponto de vista político ou econômico ou até para o milagre da copa do mundo não se transformar em pesadelo. No entanto, hoje somos uma democracia consolidada com estabilidade econômica, atingida após o plano real.
Além disso, o Brasil tem se mostrado politicamente forte em grupos econômicos e em órgãos conhecidos internacionalmente. A máxima que é mais fácil encontrar um belga na rua do que uma multinacional brasileira já não é mais válida…
Hoje os controladores do Burguer King são brasileiros. A JBS é a maior produtora mundial de carnes. Temos a Embrapa, principal centro de tecnologia agrícola no hemisfério Sul, responsável por transformar o Brasil em uma das maiores potencias rurais do mundo. Ao mesmo tempo temos Embraer que vem superando empresas americanas e canadenses. Além disso, temos um brasileiro comandando a Organização Mundial do Comércio – OMC…
Criticas devem ser refletidas e são sempre bem-vindas. Opiniões diversas e fora de consenso contribuem para uma sociedade mais evoluída. No entanto, não cabe a uma revista proclamar programas econômico-sociais ou nomear ministros.
Como bem disse nosso próprio ministro Fernando Pimentel “no dia em que a Economist nomear ministro no Brasil, deixaremos de ser uma República Federativa”. Felizmente hoje ainda escrevemos Brasil com S…
Gabriel Lancha – Administrador de Empresas e Leonardo Siqueira – Economista, ambos pela FGV.