Por que não é eficiente ficar trocando de faixa quando estamos no trânsito?
Por que um carro vale sempre menos do que o preço que o vendedor pede?
Vale a pena o governo adotar políticas imediatistas sacrificando o longo prazo?
É diante dessas perguntas e com imenso prazer que apresentamos a nova coluna do Blog “Caro Dinheiro” chamada “Faz Sentido Isso?”. Nessa coluna vamos apresentar ao leitor algumas questões que produz resultados aparentemente sem sentido, mas que analisando de forma mais profunda encontramos algumas respostas e explicações
Além do já conhecido Samy Dana, a coluna apresenta mais dois autores:
*Daniel de Lima – Graduando em Economia pela FGV-EESP, que está em estudos na Northwestern University e fará suas publicações de Chicago.
*Leonardo de Siqueira Lima – Graduando em Economia pela FGV-EESP.
Aproveitamos o momento para publicar o nosso primeiro texto: explicando porque os brasileiros vêm apresentando um perfil de consumo diferente do esperado…
Sugestões e críticas são sempre muito bem vindas. Até breve!
Samy, Daniel e Leonardo.
Mesmas medidas, novos comportamentos.
Entenda porque os brasileiros vêm apresentando um perfil de consumo diferente do esperado…
Por Samy Dana
Em 2008 o então presidente Lula disse que a crise dos subprimes nos Estados Unidos chegaria ao Brasil apenas como uma marolinha. Apesar da definição de “marolinha” ser um pouco subjetiva, o presidente estava correto de certa forma. Vale lembrar que tanto no final de 2008 como no começo de 2009 o governo anunciou alguns estímulos, como a redução do IPI para automóveis e eletrodomésticos, e o brasileiro aumentou o seu consumo.
O resultado de tais medidas foi que em 2009, no auge da crise, o PIB brasileiro diminuiu apenas 0.6% e em 2010 cresceu 7,5%. Parecia que a crise, que tinha demorado a chegar ao Brasil, havia desaparecido rápido.
Quatro anos depois a situação mudou. O foco da crise saiu dos Estados Unidos e migrou para a União Europeia, mas continua afetando todos os países ao redor do globo, inclusive o nosso.
Desde assumiu o cargo e mais veementente em 2012, a presidente Dilma mostra o poder de fogo do governo com inúmeros incentivos econômicos. No entanto, ao contrário do que se esperava ,a economia não responde da mesma maneira como em 2008.
Para ilustrar vale mencionar que, ao final de 2011 o mercado esperava que o PIB brasileiro crescesse mais do que 3% em 2012, mas agora reviu essas projeções e espera um crescimento por volta de 1,5%.
Mas se a crise da dívida na União Europeia, a princípio, é mais amena do que a de 2008 e se o Brasil possui condições macroeconômicas melhores que a anterior, porque a economia brasileira não responde aos constantes estímulos do governo? A resposta está no gráfico a seguir:
Na última década, a estabilidade macroeconômica possibilitou o alongamento no prazo das dívidas e, conjuntamente com a redução das taxas de juros, diminuiu o custo do crédito. O resultado foi uma enorme expansão do crédito pessoal. Entretanto, como se pode notar no gráfico, o endividamento vem crescendo rapidamente. Em sete anos passou de menos de 20% da renda para quase 45%. Além disso, o brasileiro tem gastado cada vez mais com osjuros de sua dívida.
O comprometimento da sua renda com o serviço da dívida passou de 15% para 22%. Ou seja, sobra menos espaço no orçamento mensal para aumentar o consumo.
Isto é um grande problema para a presidente Dilma, pois foi o aumento do consumo doméstico que permitiu que o Brasil passasse pela crise sem maiores dificuldades há alguns anos.
Como o mundo estava em recessão, as exportações brasileiras sofreram, mas o forte mercado doméstico brasileiro garantiu um crescimento razoável. Entretanto, esta fórmula parece ter sido totalmente gasta.
O próximo gráfico ilustra como o consumo não consegue mais manter o menos nível de crescimento, mesmo quando comparado a anos de crise.
A presidente Dilma e sua equipe econômica parecem ter percebido isso e alguns movimentos sugerem que a estratégia de crescimento deixa de focar no consumo. A diminuição dos encargos para alguns setores da indústria sinaliza dessa direção, mas o resultado é ainda bem tímido.
Mais importante, o recente anúncio da concessão à iniciativa privada de diversos projetos logísticos e de infraestrutura demonstra que o governo reconhece que precisa aumentar os investimentos, e que precisa da iniciativa privada para tal.
Assim, vendeu e venderá a concessão de grandes aeroportos e os últimos pacotes apontam também para os setores de ferrovia, portos e estradas.
Diante do endividamento das famílias, o mais apropriado para o governo é tentar aumentar a competitividade do país, através do investimento e da desoneração – processo que não se resolve de um dia para o outro.
Continuar tentado forçar os brasileiros a consumirem e se endividarem mais, escondendo os verdadeiros problemas da economia brasileira não é o caminho, mesmo que o crescimento em 2012 não seja significativo. Do contrário seria o mesmo que assumir que não aprendemos nada com a crise do subprime nos EUA…
Post em Parceria com Daniel de Lima e Leonardo de Siqueira Lima .