Apesar da maioria dos países terem assistido, nas últimas décadas, um aumento expressivo na renda real e nos níveis de saúde e educação, muitos economistas têm criticado as políticas publicas que têm sido traçadas.
Diversas pesquisas a respeito da felicidade humana foram feitas, e seus dados evidenciaram, estranhamente, que o progresso economico-social dos países não tem levado a índices maiores de felicidade entre as pessoas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, apesar de ter havido um expressivo aumento do PIB per capita, a felicidade média das pessoas permaneceu relativamente estável, entre 1975 e 1997. O índice foi calculado a partir de pesquisas que solicitavam a diferentes americanos que respondessem à pergunta: “No todo, como você diria que as coisas estão hoje em dia – você diria que você é (3) muito feliz, (2) razoavelmente feliz, ou (1) não muito feliz?”
Fonte: Di Tella, Rafael e MacCulloch, Robert J. (2006). “Some uses of happiness data in economics”, Journal of Economic Perspectives, 20(1), Winter.
Ao mesmo tempo que um aumento do PIB per capita de um país não levou a maiores níveis de felicidade, quando analisamos os dados populacionais de um único ano, notamos que pessoas mais ricas são significativamente mais felizes do que as mais pobres.
Fonte: Di Tella, Rafael e MacCulloch, Robert J. (2006). “Some uses of happiness data in economics”, Journal of Economic Perspectives, 20(1), Winter.
É interessante notar que, enquanto, as pessoas mais ricas dentro de um país são mais felizes do que as mais pobres, quando o país inteiro enriquece, o nível de felicidade média permanece constante. Esse contrassenso rececebu o nome de Paradoxo de Easterlin.
Uma das explicações ao paradroxo é que os indivíduos se adaptam à novos níveis de renda, mas não à sua posição relativa na sociedade.
Assim, um indivíduo que enriquece fica mais feliz apenas se melhora de vida em relação aos demais cidadãos. No entanto, quando a renda de todos aumenta, as exigências materiais da população também crescem e o nível de felicidade médio permanece o mesmo.
Por exemplo, uma pessoa que vive hoje com um salário mínimo tem melhores condições de vida que um rei do século XV: a expectativa de vida aumentou, a chance de ser assassinado caiu, a alimentação é mais rica e diversificada, as condições de higiene e transporte melhoraram, o acesso ao entretenimento cresceu etc. Apesar disso, o individuo provavelmente não se sente como um rei por uma questão relativa; ao se comparar com alguém de classe mais elevada, ele se sente mal.
De forma resumida, o resultado sugere que as pessoas não estão preocupadas apenas com o seu jardim. Pelo contrário: elas tendem a observar a grama dos demais indivíduos no seu país e no mundo para avaliarem seu estado de felicidade.
Existe até uma palavra em alemão que, de certa forma, traduz esse conceito: Schadenfreude. O termo, que passou a ser usado em outras línguas, indica a alegria que se sente ao ver a infelicidade dos outros.
Easterlin explica que é por conta dessas exigências materiais móveis que a felicidade de uma série de países não tenha aumentado nas últimas décadas, apesar do crescimento da renda sobretudo nos países ricos.
Já nos países mais pobres, a teoria de Easterlin parece não ser aderente. Estudiosos do tema sugerem que um incremento na renda nacional pode levar à níveis maiores de felicidade. A Índia, por exemplo, viu entre 1962 e 2008 um aumento de ambos os indicadores entre seus cidadãos – renda e felicidade –, o que, de certa forma, indica que essa hipótese possa ser verdadeira.
Apesar de ainda haver muitas dúvidas a respeito da relação entre o sucesso da economia e a felicidade das pessoas, uma coisa é certa: muito do que se pensava a respeito da maximização do bem-estar e do funcionamento da economia pode estar equivocado.
Tentou-se encontrar outras variáveis que pudessem relacionar-se positivamente com a felicidade, mas IDH, tempo de lazer, crime, expectativa de vida entre outras também não tiveram sucesso em explicar os níveis de bem-estar.
É fundamental que os países busquem compreender mais o assunto, ou correm o risco de estarem desenhando políticas econômicas e sociais que sejam inferteis no sentido de aumentar a felicidade de sua população
Post em Parceria com Bruno Sindicic, graduando em Economia pela FGV-EESP e em Administração de Empresas pela FGV-EAESP e Conselheiro Consultivo da EJ-FGV.